quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eu vi a cara da morte

Nunca poderia imaginar que aquela manhã linda de sol, de céu muito azul eu teria a experiência mais chocante de minha vida.
Dona Maria era uma senhorinha alegre e simpática que morava em uma casa em frente a minha. Vivia as voltas com o jogo do bicho, sempre que conversava com ela, estava a interpretar algum sonho, a contar-me uma nova intuição para descobrir se o bicho do dia era o certo para ganhar no jogo.
Naquele dia seu marido chegou afobado a minha casa. Queria que eu levasse Dona Maria para o Hospital, ela não estava sentindo-se bem. Que pena! Meu marido acabara de sair com o carro. Então pediu que ficasse com ela até ele conseguir um outro carro.
Solícita corri até lá e a encontrei na cama gemendo. Segurei sua mão tentando acalma-la, falava para ter forças, que ela já ia ficar boa, que a dor já ia passar, que já ia ser medicada...
Eu era tão jovem e iguênua que não percebi a proximidade da morte. O aperto de sua mão cada vez mais forte. E seus olhos embaçados, foram perdendo o brilho, o viço, os sonhos , as lembranças...
Meu Deus!!! E aquele suspiro de quem não queria ir. E ela morreu segurando minha mão, olhando no meus olhos.
E eu que nunca tinha pensado na morte agora estava cara a cara com ela!
Chamei dona Maria, desesperada percebi que ela não estava mais aqui. Não adiantou chorar, gritar, chamar pelos outros vizinhos.
Minha última lembrança foram seus olhos parados , entre- abertos olhando para mim! Pareciam dizer, percebeu a fragilidade da vida? Como é fácil, simples e natural morrer? Você e todos os seus um também morrerão!
Chorei muito, chorei pelos meus pais, chorei pelos meus filhos, chorei por mim, por todos que me rodeavam.
Vera Marins

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